top of page

Homem! Quer colorir suas unhas?

“Homem! Quer colorir suas unhas?” é uma performance relacional que vêm acontecendo no ambiente urbano e que convoca sujeitos que se identificam com o gênero masculino a se questionarem sobre o que exatamente os caracteriza como homens. Quando e performer Léo Menin propõe a execução de uma ação tipicamente associada ao gênero feminino, a saber, o ato de pintar as unhas, a indivíduos aos quais não lhes foi direcionada tal ação, homens cis-gênero, parece que algo fica em suspenso e algumas perguntas emergem. Perguntas principalmente associadas às imposições de gênero aplicadas sobre corpos masculinos, que supostamente deveriam operar soberanos dentro do regime social, político e normativo que chamamos de patriarcado. Afinal, já que é assim, por que eles não podem tingir suas unhas com cor? Mesmo que no fundo queiram.

Léo, na ação, se apresenta carregando uma placa que contém os dizeres “Homem! Quer colorir sua unhas?”. Também traz uma pequena necessaire, onde coloca alguns esmaltes coloridos e outros objetos de manicure. Além da placa e da necessaire, Léo performa com seu corpo, um corpo que também se mostra enquanto ruptura, pois é lido como masculino em suas características biológicas formais, mas que traz consigo inúmeros signos femininos (maquiagem, roupas, trejeitos) que tensionam aparência e identidade -”afinal quem está propondo isso? Quem é a pessoa que quer pintar as minhas unhas? Um homem afeminado? Uma bicha? Uma travesti?” Questões que se intensificam quando o contato direto performer-passante acontece.

O contato se dá primeiro pelo olhar de Léo, que tenta convidar esses indivíduos que passam a olhar para seu cartaz. O segundo momento é de contemplação dos dizeres, que pode ser feito enquanto caminha ou, um pouco mais raro, com a pessoa parando para ler o que está escrito. O terceiro momento é crucial, é o que a pessoa faz com essa pergunta, ela pode ir embora e fingir que não foi afetada pelo que leu, que aquela pergunta não gerou um sentimento, nem que seja o de inconformação, ou, então, ela pode parar para saber mais, se parar, no entanto, terá que sair de sua zona de conforto e pintar suas unhas, um momento que aproxima passante-performer e possibilita uma conversa honesta e questionadora. 

Nos tipos de práticas que a plataforma realiza, muito tem se aprofundado em ações ditas relacionais, que acontecem no encontro entre a performer e outre, seja essu outre ume passante, ou parte de um público específico ou mesmo ume convidade. Léo se identifica e vivência uma experiência do que pode ser chamar de não-binariedade, ou seja, em sua performatividade de gênero, Léo não se vê contemplade nem pelo conjunto de normas e operações que caracterizam um homem e tampouco pelas que caracterizam uma mulher. Parte da ação tem sido observar, então, também como esses encontros suscitam essas lógicas que Léo tenta ultrapassar em sua própria existência. 

“Homem quer colorir suas unhas?” tem se apresentado como uma forte ferramenta para abrir brechas no que parece óbvio, para cavucar o que era tido como certo nas construções do masculino e para refletir em uma prática urbana contemporânea as inquietações tão pungentes de corpos que buscam extrapolar certas concepções fechadas de gênero.

A ação foi feita em espaços públicos de Curitiba/PR e Uberlândia/MG. Também foi apresentada dentro do IX ENCONTRO NACIONAL DO GT PEDAGOGIA DAS ARTES CÊNICAS, em uma comunicação voltada à discussão de gênero.
 

bottom of page